sábado, 20 de junho de 2015

Por que fugir dos bicos artificiais (chupeta e mamadeira)?


"O desmame precoce contribui para a desnutrição, para a mortalidade infantil e pode prejudicar o vínculo da mãe com o bebê. O leite materno é o alimento ideal para o bebê, protege contra as infecções e estreita o vínculo entre mãe e filho.
O leite da mãe deve ser o único alimento do bebê nos primeiros 6 meses. A amamentação garante a saúde da criança e pode se estender a partir dos 6 meses até os dois anos de idade ou mais, junto com outros alimentos.
Os principais cuidados para facilitar o aleitamento e evitar o desmame precoce são:
  • colocar o bebê no peito na primeira hora depois do parto;
  • dar só leite materno e não oferecer nada mais (nem água ou chá) durante os 6 primeiros meses;
  • amamentar o bebê sempre que ele pedir e não em horários determinados (livre demanda);
  • dar o peito de forma correta: o bebê deve abocanhar toda a aréola (parte escura do peito) e não
    só o bico do peito;
  • não deixar de amamentar se as mamas endurecerem. A mãe deve ser orientada a retirar manualmente o leite e receber analgésicos se houver muita dor. Se não melhorar, deve procurar a equipe de saúde.
Mesmo quando o recém-nascido tiver problemas que forcem a internação em UTI, a mãe deve ficar por perto, fazer carinho e amamentar. Se não for possível, a mãe deve retirar o leite, que pode ser dado ao bebê por sonda ou copinho. É importante ter a ajuda de um Banco de Leite Humano, ou de uma equipe de saúde treinada.
NÃO DAR CHUPETA OU MAMADEIRA PARA O BEBÊ."
(Esse texto é do Ministério da Saúde, através do Programa Rede Cegonha, como base para uma boa amamentação)

Destaco atenção para os dizeres "Não dar chupeta ou mamadeira para o bebê" para ajudar a esclarecer os prejuízos que o uso desses artefatos são para o aleitamento materno e como evitar o seu uso.
O formato anatômico de chupetas e mamadeiras (mesmo aquelas que garantem que são iguais ao peito) nunca vão se igualar ao seio materno. O ato da amamentação utiliza músculos que não são alcançados com o uso de bicos artificiais e a chupeta é uma forma vazia de consolo.

Mamadeira X Aleitamento materno

Parece fácil falar para não utilizar os bicos, mas muitas mães tem dificuldades no começo da amamentação ou até mesmo para lidar com o recém nascido e o uso desses bicos facilitam no dia a dia. Porém, essa medida é superficial, porque não é o que a criança está efetivamente querendo. Na verdade, um bebê precisa da sua mãe, somos mamíferos, e o que um filhote de mamífero faz quando nasce? Fica grudado na sua mãe, até atingir um certo amadurecimento e começar a sair para descobrir o mundo, isso acontece com o ser humano também e leva alguns meses.
"Os seres humanos são mamíferos. Nascemos do ventre de uma mãe e necessitamos desesperadamente ser protegidos pelo corpo materno. Privar as crianças do prazer de estar em contato permanente com a mãe é um desastre ecológico. Estamos reprimindo todo o prazer, todo o pulso vital e toda implantação sensorial da criança para o resto da vida. A amamentação é parte disso - mas, sem a permanência da criança sobre o corpo da mãe, a própria amamentação não pode prosperar". LAURA GUTMAN
Se você oferece a mamadeira (mesmo que seja com leite materno), o movimento de sucção é diferente de quando ele mama no peito, então pode acontecer a confusão de bicos e quando o bebê for pegar o peito novamente, pode estranhar e rejeitar, interrompendo precocemente o aleitamento e interferindo na saúde e desenvolvimento da criança.
Então, quando seu bebê chorar, mesmo que ele tenha acabado de mamar no peito, ofereça o peito novamente, sem medo, sem vergonha do que as pessoas vão achar ou dizer. Às vezes ele não está mais com fome, mas quer sentir o calor e a proteção da sua mãe, ou está sentindo algum desconforto intestinal e a sucção ajuda a passar. Enfim, várias situações onde o peito (ou o ato de amamentar) não será necessariamente para alimentar o corpo, mas também o psicológico e o emocional do seu bebê (e até mesmo o nosso).

A Chupeta

É bem claro que ela faz o papel do seio materno. Qual é o mais natural e o que veio antes? Sendo assim, quando dizemos que o bebê está chupetando o peito ou que é pra dar uma chupeta logo de vez, estamos fazendo aí uma inversão, porque como foi dito antes, o peito não é só alimento, é acalento.
O que pode acontecer também, é que o bebê pode estar um pouco entediado, então ao invés de oferecer a chupeta, que tal fazer um passeio no carrinho ou sling, colocar uma música, ler um livro ou balançar em uma rede?
Abaixo está um link falando um pouco sobre a utilização da chupeta e seus malefícios. Destaco o texto:
"Pesquisas científicas comprovam que as crianças que param de mamar antes usam chupeta com mais frequência do que aquelas que são amamentadas por um período maior de tempo, sugerindo uma relação entre esses dois fatos. Além disso, a sucção feita em um bico artificial leva à perda da tonicidade e a alteração dos músculos da face (principalmente dos lábios e da língua), o que acaba confundindo a criança e a leva a não ser mais capaz de mamar o peito da mãe da maneira correta.
Também existem evidências de que o uso de chupeta diminui a produção de leite da mãe, uma vez que o bebê procura menos pelo peito. Esse fato pode até mesmo interferir no ganho de peso da criança.
Não oferecer bicos artificiais ou chupetas a crianças é um dos Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno, uma cartilha elaborada pela Unicef em parceria com a Organização Mundial da Saúde e recomendada pelo Ministério da Saúde do Brasil."
http://hypescience.com/os-males-da-chupeta-e-como-ela-pode-comprometer-seu-filho-para-o-resto-da-vida/

Seu bebê precisa de sua atenção, precisamos entender que esse é um período onde nossas prioridades mudam. Deixe a limpeza da casa pra depois ou aquele almoço caprichado para quando tiver alguém em casa pra te ajudar. Nos dias de maior cansaço, saia para dar uma volta com o bebê, lembre seu/sua companheiro dos seus deveres, tomem um banho juntos, há uma infinidade de coisas que vocês podem fazer juntos sem cair na tentação da chupeta. São alguns meses que passam super rápido e o carinho e a atenção que você dará para seu pequeno, especialmente nesse período, será um reflexo para a vida toda do seu filho.

Beijocas,

Medidas que incentivam o Parto Normal na saúde suplementar.



À partir do meio desse ano (2015), as cesáreas desnecessárias eletivas (aquelas com hora marcada e sem indicação clínica) não serão pagas/aprovadas pelo plano de saúde. Os médicos terão que enviar um relatório detalhado caso seja uma indicação real e absoluta para marcar a cirurgia e/ou deverá apresentar o Partograma (que contém informações sobre o andamento do trabalho de parto). Os médicos, hospitais e os convênios também serão obrigados a passar a taxa (%) de cesariana que eles tem (quantas cesarianas X partos normais que eles realizam) se a gestante solicitar. E as gestantes terão direito ao cartão da gestante de acordo com o padrão do Ministério da Saúde.
Isso mostra que as operadores dos planos de saúde abriram os olhos para as altas taxas de cesariana (muitas vezes desnecessárias) que eles tinham que pagar, fora as internações nas dependências do hospital e/ou UTI, decorrentes dos riscos dessa cirurgia.

Além disso, o Ministério da Saúde constatou, através de uma pesquisa chama Nascer no Brasil, que chega a 88% os nascimentos via cirurgia cesariana na saúde suplementar e esse é um número alarmante, pois também é uma questão de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde recomenda apenas 15%, ou seja, apenas 15% das mulheres podem precisar de uma cesárea, seja por indicação clínica ou por intercorrência na hora do trabalho de parto.
"A conclusão do estudo da OMS é que cesarianas associam-se com um risco intrínseco de desfechos maternos graves e que somente deveriam ser realizadas quando um claro benefício é antecipado, compensando os custos maiores e os riscos adicionais associados com a cirurgia." Melania Amorim, obstetra.
Fonte e estudo: http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/11/estudando-cesarea-desnecessaria.html


Tudo isso não significa que a cesárea está proibida no Brasil, as medidas significam apenas que os médicos terão que exercer sua função com responsabilidade e respeito a mulher e ao bebê. Informá-la durante o pré-natal dos benefícios e risco de ambas vias de nascimento (parto normal e cesariana), terão que aguardar a mulher entrar em trabalho de parto e conduzi-lo como deve ser ou então a mulher/família terá que arcar com os custos de uma cirurgia eletiva quando desnecessária clinicamente.

Saiba mais sobre as mudanças em: http://www.blog.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=34963&catid=564&Itemid=101

Beijocas,

terça-feira, 16 de junho de 2015

Os gases e a cólica por Dr. González



Os gases

Tanto os bebês como os adultos podem ter gases no estômago ou no intestino (sobretudo no intestino grosso). Mas são duas questões completamente diferentes.
O gás encontrado no estômago é ar, ar normal e corrente que o indivíduo engoliu (é o que os médicos chamam aerofagia, engolir ar). Os bebês podem engolir ar ao se alimentar, ou ao chorar, também quando chupam dedo ou chupeta.
O gás que está no intestino é diferente, basta cheirá-lo para perceber. Contém nitrogênio do ar deglutido (o oxigênio foi absorvido pelo tubo digestivo) e gases que são produzidos no próprio intestino pela digestão de certos alimentos e que dão seu odor característico.
Quando um bebê engole muito ar, seria possível que soltasse muito “pum”, porém é mais fácil que o excesso saia por cima, com arrotos. Um excesso de gases no intestino é mais provável que seja proveniente da digestão que do ar deglutido. Quando o bebê não mama corretamente, porque está com a pega errada ou tem outra dificuldade, é possível que tome muita lactose e pouca gordura e a sobrecarga de lactose pode produzir um excesso de gases. Além disso, por estar com a pega errada, é provável que engula ar enquanto mama. Mas nem a pega incorreta é a principal causa dos gases, nem os gases são o principal sintoma da pega incorreta.
Os gases em excesso no intestino só podem ser eliminados sob a forma de “pum” . Por sorte, não podem fazer o caminho inverso e sair pela boca.
É mais fácil eliminar o ar do estômago (quer dizer, arrotar) em posição vertical que em posição horizontal. Como nossos antepassados estavam sempre no colo de suas mães, em posição mais ou menos vertical, não deviam ter muito problema. No século passado o uso das mamadeiras e dos berços ficou generalizado. Com a mamadeira, o bebê pode engolir muito ar, e no berço é difícil soltá-lo; por isso parecia importante colocar o bebê para arrotar antes de colocá-lo no berço.
Contudo, não parece que os gases incomodam os bebês, salvo em casos extremos. Muita gente pensa que a principal causa do choro em bebês pequenos seja os gases; e muitos dos medicamentos que ao longo do tempo se tem recomendado para a cólica do lactente se supunha que ajudavam a expulsá-los (esse é o significado da palavra carminativo), ou para evitar a formação de bolhas (nunca entendi o porquê, mas sim, algumas gotas para cólicas são antiespumantes).
Nem todos estão de acordo com a causa das cólicas (mais adiante explicarei minha teoria favorita), mas parece que não restam mais defensores sérios da teoria dos gases. Há muitos anos, quando não se sabia que o excesso de raio x era maléfico e se faziam radiografias por qualquer bobagem, alguém teve a idéia de fazer radiografias dos bebês que choravam (o gás é visto perfeitamente como uma grande mancha negra na radiografia). Comprovou-se que os bebês têm poucos gases quando começam a chorar, porém muitos gases quando levam um tempo chorando. O que ocorre é que engolem ar ao chorar, e como não podem chorar e arrotar ao mesmo tempo, vão acumulando gases até que param de chorar. A mãe costuma explicar assim: “Tadinho, estava chorando muito porque estava cheio de gases. Peguei, dei uns tapinhas, ele, conseguiu arrotar e melhorou”. Na realidade, a interpretação correta seria: “Tadinho, chorava porque estava com saudade de mim. Quando peguei ele no colo e fiz carinho, ele se tranquilizou e deu um arroto enorme com todo o ar que tinha engolido enquanto chorava”.
Acho que isso explica a importância do arroto no século passado. Quando a mãe tentava colocar o bebê no berço logo após acabar de mamar, o bebê chorava desesperado. Em vez disso, se ficasse com ele no colo e o embalasse um pouco antes de colocá-lo no berço, era mais fácil que o bebê se traquilizasse e dormisse. Durante esse tempo que estava nos braços, claro, o bebê arrotava. E como ninguém queria reconhecer que o colo da mãe era bom para o bebê (como vai ser bom? O colo da mãe é mau, estraga, o bebê não tem que ficar no colo, ou ficará manhoso!), preferiram pensar que era o arroto, e não a presença da mãe, que havia feito o milagre.
A verdade é que muitas mães modernas têm a ideia de que o arroto é importantíssimo, fundamental para a saúde e bem estar do seu filho. Tem que arrotar custe o que custar. Mas os bebês amamentados, se mamaram corretamente, não engolem quase nada de ar (os lábios se fecham hermeticamente sobre o peito, razão pelo qual o ar não entra; e dentro do peito não tem ar, ao contrário da mamadeira). Muitas vezes, os bebês de peito não arrotam depois de mamar. Por outro lado, quando estão com a pega errada, é possível que engulam ar, fazendo um barulho como de beijinhos, porque fica uma frestinha entre os lábios e o peito.
Uma vez uma mãe me explicou que seu filho custa a arrotar, que tem de ficar uma hora dando tapinhas nas costas, que ele chora, inclusive,de tão mal que fica, até que por fim pode eliminar os gases. Pobre criatura, o que acontece é que não tem gases para eliminar; chora de tantos tapinhas e voltas que dão com ele, e ao final elimina o ar que engoliu enquanto chorava.
Não fique obsessiva com o arroto. Depois de mamar, é uma boa ideia deixar o bebê por um tempo no colo. Isso ele vai gostar. Se nesse tempo eliminar os gases, está bem. E se não, pode ser que não tenha gases. Não lhe dê tapinhas nas costas, não lhe dê camomila, nem erva-doce, nem água, nem nenhum remédio para gases (nem natural nem artificial, nem alopático nem fitoterápico, nem comprado, nem o que tenha em casa).

A cólica

Os bebês ocidentais costumam chorar bastante durante os primeiros meses, o que se conhece como cólica do lactente ou cólica do primeiro trimestre. Cólica é a contração espasmódica e dolorosa de uma víscera oca; há cólicas dos rins, da vesícula e do intestino. Como o lactente não é uma vesícula oca e o primeiro trimestre muito menos, o nome logo de cara não é muito feliz. Chamavam de cólica porque se acreditava que doía a barriga dos bebês; mas isso é impossível saber. A dor não se vê, tem de ser explicada pelo paciente. Quando perguntam a eles: “por que você está chorando?”, os bebês insistem em não responder; quando perguntam novamente anos depois, sempre dizem que não se lembram. Então ninguém sabe se está doendo a barriga, ou a cabeça, ou as costas, ou se é coceira na sola dos pés, ou se o barulho está incomodando, ou simplesmente se estão preocupados com alguma notícia que ouviram no rádio. Por isso, os livros modernos frequentemente evitam a palavra cólica e preferem chamar de choro excessivo na infância. É lógico pensar que nem todos os bebês choram pelo mesmo motivo; alguns talvez sintam dor na barriga, mas outro pode estar com fome, ou frio, ou calor, e outros (provavelmente a maioria) simplesmente precisam de colo.
Tipicamente, o choro acontece sobretudo à tarde, de seis às dez, a hora crítica. Às vezes de oito à meia-noite, às vezes de meia-noite às quatro, e alguns parecem que estão a postos vinte e quatro horas por dia. Costuma começar depois de duas ou três semanas de vida e costuma melhorar por volta dos três meses (mas nem sempre).
Quando a mãe amamenta e o bebê chora de tarde, sempre há alguma alma caridosa que diz: “Claro! De tarde seu leite acaba!”. Mas então, por que os bebês que tomam mamadeira têm cólicas? (a incidência de cólica parece ser a mesma entre os bebês amamentados e os que tomam mamadeira). Por acaso há alguma mãe que prepare uma mamadeira de 150 ml pela manhã e de tarde uma de 90 ml somente para incomodar e para fazer o bebê chorar? Claro que não! As mamadeiras são exatamente iguais, mas o bebê que de manhã dormia mais ou menos tranquilo, à tarde chora sem parar. Não é por fome.
“Então, por que minha filha passa a tarde toda pendurada no peito e por que vejo que meus peitos estão murchos?” Quando um bebê está chorando, a mãe que dá mamadeira pode fazer várias coisas: pegar no colo, embalar, cantar, fazer carinho, colocar a chupeta, dar a mamadeira, deixar chorar (não estou dizendo que seja conveniente ou recomendável deixar chorar, só digo que é uma das coisas que a mãe poderia fazer). A mãe que amamenta pode fazer todas essas coisas (incluindo dar uma mamadeira e deixar chorar), mas, além disso, pode fazer uma exclusiva: dar o peito. A maioria das mães descobrem que dar de mamar é a maneira mais fácil e rápida de acalmar o bebê (em casa chamamos o peito de anestesia), então dão de mamar várias vezes ao longo da tarde. Claro que o peito fica murcho, mas não por falta de leite, mas sim porque todo o leite está na barriga do bebê. O bebê não tem fome alguma, pelo contrário, está entupido de leite.
Se a mãe está feliz em dar de mamar o tempo todo e não sente dor no mamilo (se o bebê pede toda hora e doem os mamilos, é provável que a pega esteja errada), e se o bebê se acalma assim, não há inconveniente. Pode dar de mamar todas as vezes e todo o tempo que quiser. Pode deitar na cama e descansar enquanto o filho mama. Mas claro, se a mãe está cansada, desesperada, farta de tanto amamentar, e se o bebê está engordando bem, não há inconveniente que diga ao pai, à avó ou ao primeiro voluntário que aparecer: “pegue este bebê, leve para passear em outro cômodo ou na rua e volte daqui a duas horas”. Porque se um bebê que mama bem e engorda normalmente mama cinco vezes em duas horas e continua chorando, podemos ter razoavelmente a certeza de que não chora de fome (outra coisa seria um bebê que engorda muito pouco ou que não estava engordando nada até dois dias atrás e agora começa a se recuperar: talvez esse bebê necessite mamar muitíssimas vezes seguidas). E sim, se pedir para alguém levar o bebê para passear, aproveite para descansar e, se possível, dormir. Nada de lavar a louça ou colocar em dia a roupa para passar, pois não adiantaria nada.
Às vezes, acontece de a mãe estar desesperada por passar horas dando de mamar, colo, peito, colo e tudo de novo. Recebe seu marido como se fosse uma cavalaria: “por favor, faça algo com essa menina, pois estou ao ponto de ficar doida”. O papai pega o bebê no colo (não sem certa apreensão, devido às circunstâncias), a menina apoia a cabecinha sobre seu ombro e “plim” pega no sono. Há várias explicações possíveis para esse fenômeno. Dizem que nós homens temos os ombros mais largos, e que se pode dormir melhor neles. Como estava há duas horas dançando, é lógico que a bebê esteja bastante cansada. Talvez precisasse de uma mudança de ares, quer dizer, de colo (e muitas vezes acontece o contrário: o pai não sabe o que fazer e a mãe consegue tranquilizar o bebê em segundos).
Tenho a impressão (mas é somente uma teoria minha, não tenho nenhuma prova) de que em alguns casos o que ocorre é que o bebê também está farto de mamar. Não tem fome, mas não é capaz de repousar a cabeça sobre o ombro de sua mãe e dormir tranqüilo. É como se não conhecesse outra forma de se relacionar com sua mãe a não ser mamando. Talvez se sinta como nós quando nos oferecem nossa sobremesa favorita depois de uma opípara refeição. Não temos como recusar, mas passamos a tarde com indigestão. No colo da mamãe é uma dúvida permanente entre querer e poder; por outro lado, com papai, não há dúvida possível: não tem mamá, então é só dormir.
Minha teoria tem muitos pontos fracos, claro. Para começar, a maior parte dos bebês do mundo estão o dia todo no colo (ou carregados nas costas) de sua mãe e, em geral, descansam tranquilos e quase não choram. Mas talvez esses bebês conheçam uma outra forma de se relacionar com suas mães, sem necessidade de mamar. Em nossa cultura fazemos de tudo para deixar o bebê no berço várias horas por dia; talvez assim lhes passemos a idéia de que só podem estar com a mãe se for para mamar.
Porque o certo é que a cólica do lactente parece ser quase exclusiva da nossa cultura. Alguns a consideram uma doença da nossa civilização, a consequência de dar aos bebês menos contato físico do que necessitam. Em outras sociedades o conceito de cólica é desconhecido. Na Coreia, o Dr. Lee não encontrou nenhum caso de cólica entre 160 lactentes. Com um mês de idade, os bebês coreanos só passavam duas horas por dia sozinhos contra as dezesseis horas dos norteamericanos. Os bebês coreanos passavam o dobro do tempo no colo que os norteamericanos e suas mães atendiam praticamente sempre que choravam. As mães norteamericanas ignoravam deliberadamente o choro de seus filhos em quase a metade das vezes.
No Canadá, Hunziker e Barr demonstraram que se podia prevenir a cólica do lactente recomendando às mães que pegassem seus bebês no colo várias horas por dia. É muito boa idéia levar os bebês pendurados, como fazem a maior parte das mães do mundo. Hoje em dia é possível comprar vários modelos de carregadores de bebês nos quais ele pode ser levado confortavelmente em casa e na rua. Não corra para colocar o bebê no berço assim que ele adormecer; ele gosta de estar com a mamãe, mesmo quando está dormindo. Não espere que o bebê comece a chorar, com duas ou três semanas de vida, para pegá-lo no colo; pode acontecer de ter “passado do ponto” e nem no colo ele se acalmar. Os bebês necessitam de muito contato físico, muito colo, desde o nascimento. Não é conveniente estarem separados de sua mãe, e muito menos sozinhos em outro cômodo. Durante o dia, se o deixar dormindo um pouco em seu bercinho, é melhor que o bercinho esteja na sala; assim ambos (mãe e filho) se sentirão mais seguros e descansarão melhor.
A nossa sociedade custa muito a reconhecer que os bebês precisam de colo, contato, afeto; que precisam da mãe. É preferível qualquer outra explicação: a imaturidade do intestino, o sistema nervoso... Prefere-se pensar que o bebê está doente, que precisa de remédios. Há algumas décadas, as farmácias espanholas vendiam medicamentos para cólicas que continham barbitúricos (se fazia efeito, claro, o bebê caía duro). Outros preferem as ervas e chás, os remédios homeopáticos, as massagens. Todos os tratamentos de que tenho notícia têm algo em comum: tem de tocar no bebê para dá-lo. O bebê está no berço chorando; a mãe o pega no colo, dá camomila e o bebê se cala. Teria se acalmado mesmo sem camomila, com o peito, ou somente com o colo. Se, ao contrário, inventassem um aparelho eletrônico para administrar camomila, ativado pelo som do choro do bebê, uma microcâmera que filmasse o berço, um administrador que identificasse a boca aberta e controlasse uma seringa que lançasse um jato de camomila direto na boca... Acredita que o bebê se acalmaria desse modo? Não é a camomila, não é o remédio homeopático! É o colo da mãe que cura a cólica.
Taubman, um pediatra americano, demonstrou que umas simples instruções para a mãe (tabela 1) faziam desaparecer a cólica em menos de duas semanas. Os bebês cujas mães os atendiam, passaram de uma média de 2,6 horas ao dia de choro para somente 0,8 horas. Enquanto isso, os do grupo de controle, que eram deixados chorando, choravam cada vez mais: de 3,1 horas passaram a 3,8 horas. Quer dizer, os bebês não choram por gosto, mas porque alguma coisa está acontecendo. Se são deixados chorando, choram mais, se tentam consolá-los, choram menos (uma coisa tão lógica! Por que tanta gente se esforça em nos fazer acreditar justo no contrário?).

Tabela 1 – Instruções para tratar a cólica, segundo Taubman (Pediatrics 1984;74:998)
1- Tente não deixar nunca o bebê chorando.
2- Para descobrir por que seu filho está chorando, tenha em conta as seguintes possibilidades:
a- O bebê tem fome e quer mamar.
b- O bebê quer sugar, mesmo sem fome.
c- O bebê quer colo.
d- O bebê está entediado e quer distração.
e- O bebê está cansado e quer dormir.
3- Se continuar chorando durante mais de cinco minutos com uma opção, tente com outra.
4- Decida você mesma em qual ordem testará as opções anteriores.
5- Não tenha medo de superalimentar seu filho. Isso não vai acontecer.
6- Não tenha medo de estragar seu filho. Isso também não vai acontecer.

No grupo de controle, as instruções eram: quando o bebê chorar e você não souber o que está acontecendo, deixe-o no berço e saia do quarto. Se após vinte minutos ele continuar chorando, torne a entrar, verifique (um minuto) que não há nada, e volte a sair do quarto. Se após vinte minutos ele continuar chorando etc. Se após três horas ele continuar chorando, alimente-o e recomece.
As duas últimas instruções do Dr. Taubman me parecem especialmente importantes: é impossível superalimentar um bebê por oferecer-lhe muita comida (que o digam as mães que tentam enfiar a papinha em um bebê que não quer comer); e é impossível estragar um bebê dando-lhe muita atenção. Estragar significa prejudicá-lo. Estragar uma criança é bater nela, insultá-la, ridicularizá-la, ignorar seu choro. Contrariamente, dar atenção, dar colo, acariciá-la, consolá-la, falar com ela, beijá-la, sorrir para ela são e sempre foram uma maneira de criá-la bem, não de estragá-la.
Não existe nenhuma doença mental causada por um excesso de colo, de carinho, de afagos... Não há ninguém na prisão, ou no hospício, porque recebeu colo demais , ou porque cantaram canções de ninar demais para ele, ou porque os pais deixaram que dormisse com eles. Por outro lado, há, sim, pessoas na prisão ou no hospício porque não tiveram pais, ou porque foram maltratados, abandonados ou desprezados pelos pais. E, contudo, a prevenção dessa doença mental imaginária, o estrago infantil crônico , parece ser a maior preocupação de nossa sociedade. E se não, amiga leitora, relembre e compare: quantas pessoas, desde que você ficou grávida, avisaram da importância de colocar protetores de tomada, de guardar em lugar seguro os produtos tóxicos, de usar uma cadeirinha de segurança no carro ou de vacinar seu filho contra o tétano? Quantas pessoas, por outro lado, avisaram para você não dar muito colo, não colocar para dormir na sua cama, não acostumar mal o bebê?

Lee K. The crying pattern of Korean infants and related factors. Dev Med Child Neurol. 1994; 36:601-7
Hunziker UA, Barr RG. Increased carrying reduces infant crying: a randomized controlled trial. Pediatrics 1986;77:641-8
Taubnan B. Clinical trial of treatment of colic by modification of parent-infant interaction. Pediatrics 1984;74:998-1003

Do livro Un regalo para toda la vida- Guía de la lactancia materna, Carlos González

Tradução: Fernanda Mainier
Revisão: Luciana Freitas

Texto retirado do grupo virtual Soluções para noites sem choro 

Beijocas,

O difícil começo da amamentação




Algumas mães se preparam para o parto, preparam o enxoval, o quartinho do bebê e a casa para receber a nova vida que está por vir. Pessoas ao seu redor dizem como será os primeiros dias com o bebê, como vai ser maravilhoso ser mãe e a alegria que essa nova vida vai trazer para o seu lar. Mas alguém já te contou que a amamentação pode ser difícil no começo? Que você tem que se preparar psicologicamente e que tem muita informação para absorver antes de amamentar? Que pode não ser tão fácil quanto parece, mas que com ajuda e apoio você vai conseguir?

Vou dividir meu relato sobre a amamentação nos primeiros momentos de vida da Sofia. Um relato que contém um misto de sentimentos, dor e satisfação:

Quando eu estava gestando, uma amiga muito querida (Evelyn), me indicou um grupo virtual sobre amamentação da AMS Brasil, o Aleitamento Materno Solidário. Nele, eu acompanhei alguns posts, li as recomendações dos órgãos competentes da área, e ia me empoderando. Enquanto isso, por outro lado, nenhum médico do pré natal tocou nesse assunto. Pois bem, Sofia estava pra nascer e eu tinha uma curiosidade e uma expectativa imensa de saber como que era amamentar, física e emocionalmente.
Sofia nasceu e eu confirmei minhas expectativas, foi sublime! Senti uma vontade de nunca mais sair dali, de ficar sentindo seu cheiro doce e seu corpo quentinho em contato com a minha pele. Senti a força da sucção dela nutrindo-se do meu corpo. Queria ter congelado aquele momento para sempre! Passei a noite e o dia amamentando, na hora que ela queria, pelo tempo que ela quisesse. Estava realizada e feliz por ter sido tudo do jeito que eu imaginei. Fomos para casa, e no segundo dia meu leite desceu (até então ela estava se alimentando do colostro). Aí o negócio começou a desandar.
No terceiro dia de nascida, a Sofia mamava loucamente, como qualquer recém nascido, e meus peitos estavam literalmente explodindo de tanto leite. A cada mamada meu peito jorrava leite, eu trocava de roupa várias vezes por dia e vinha amamentando em livre demanda. Foi então que comecei a sentir algumas pontadas no bico do peito, que são planos e como os peitos estavam muito cheios, quase não dava pra ver a diferença entre o peito e o bico. Eu achei estranho, mas pensei que era normal, afinal eu já tinha ouvido falar que poderia doer um pouco no começo. Mas a dor foi só piorando.
No quarto dia, eu já tinha várias fissuras no bico, meu peito estava duro e estava sangrando horrores. Achava que a pega estava certa, mas sabia que tinha algo errado, eu segurava em algo pra amamentar e por muitas vezes chorei com a minha filha no meu colo, uma vez até meu marido segurou ela pra mim enquanto amamentava, porque eu não tinha mais forças. No quinto dia, um pedacinho do bico saiu, de tão machucado que estava, isso pra mim foi o fim. Nesse estágio eu já tinha pensado em usar bico de silicone (mas sabia que não era correto), tentei usar a tal pomada salvadora, e nada. Só nunca pensei em dar outro leite pra Sofia, porque eu sabia que mesmo ela mamando com sangue,  o meu leite era melhor. Mas daquele jeito não podia ficar.
No sexto dia, aconselhada pelas mães do grupo virtual, procurei o Banco de Leite da minha cidade. A enfermeira que me atendeu foi um anjo, me ajudou com a pega, mudou a posição que eu vinha amamentando a Sofia e, por incrível que pareça, eu não senti nenhuma dor, amamentei com os dois peitos e ficamos satisfeitas. Porém, estava com início de mastite e como estava muito machucado, a enfermeira marcou uma consulta com a pediatra responsável do Bando de Leite.
No sétimo dia, no primeiro horário, estava lá eu, a Sofia e minha mãe no consultório do BL. A médica passou um remédio para a mastite e me mostrou outras posições que eu poderia amamentar e que não machucariam mais. Ufa! Foi como tirar com a mão a dor que eu estava sentindo. Aquelas posições, que pra mim foram inusitadas, me salvaram. As dicas simples, como ficar com o peito de fora, passar o próprio leite materno e descartar a pomada, ajudaram a cicatrizar as feridas. E, finalmente, depois de 15 dias, pude amamentar a Sofia com a satisfação e o prazer que eu tanto esperava.
Com 1 mês, já não tinha mais nada! Comecei a doar leite e me realizei mais uma vez. Pude retribuir a ajuda que tanto me deram no Banco de Leite e ao mesmo tempo, ajudar outros bebês que não puderam se alimentar do leite de suas mães.
Tive muita ajuda do meu marido e da minha mãe com as coisas da casa e comida.. Eles sempre me apoiaram na decisão de não dar nenhum outro alimento para minha filha, e, principalmente, estavam lá pra secar minhas lágrimas e buscar um copo d´água quando eu precisava.
Desde o primeiro dia de vida até completar exatos 6 meses, a Sofia tomou somente leite materno e na hora que ela solicitava. Pude, apesar de tudo que passamos no começo, nutrir a minha filha somente com o alimento que meu corpo produzia. Depois dos 6 meses ela experimentou outros sabores e texturas. Continua com o leite da mamãe, hoje com 22 meses, e vai continuar até quando as duas quiserem.

Leite materno: saúde, amor em forma líquida, laço indestrutível e cumplicidade.

Beijocas,