Perdeu-se a noção de que o desmame não é um evento e sim um processo, que faz parte da evolução da mulher como mãe e do desenvolvimento da criança, assim como sentar, andar, correr, falar. Nesta lógica, assim como nenhuma criança começa a andar antes de estar pronta, nenhuma criança deveria ser desmamada antes de atingir a maturidade para tal. O desmame começa com a introdução alimentar e se faz completo quando a criança para de amamentar totalmente.
A Organização Mundial da Saúde recomenda o aleitamento materno por dois anos ou mais, devendo ser a única forma de alimentação da criança nos seis primeiros meses de vida. Ainda assim, são pouquíssimas as mães no Brasil que amamentam seus filhos por mais de dois anos. As razões para isso vão desde dificuldades práticas relacionadas à rotina diária, até a crença de que o aleitamento além do primeiro ano de vida seja danoso para a criança do ponto de vista psicológico. Para quem acha que a amamentação prolongada pode gerar problemas sexuais ou deixar as crianças muito dependentes, temos uma informação interessante: segundo diversas teorias, o período natural de aleitamento materno para a espécie humana vai de 2,5 a sete anos. Algumas mães promovem o desmame precocemente acreditando contribuir para o processo de amadurecimento de seus filhos. Entretanto, isso pode gerar insegurança, dificultando que as crianças se tornem indivíduos independentes.
As mulheres devem estar preparadas para as mudanças físicas e emocionais que o desmame pode desencadear, tais como: mudança de tamanho das mamas, mudança de peso e sentimentos diversos, tais como alívio, paz, tristeza, depressão, culpa e arrependimento. Já se avançou muito na valorização do aleitamento materno nos últimos tempos. A recomendação da duração da amamentação passou de 10 meses na década de 30 para dois anos, ou mais, nos dias de hoje.
O desmame pode ser classificado em quatro diferentes categorias: abrupto, planejado ou gradual, parcial e natural. Este último, que seria o processo ideal, tem iniciativa na própria criança. Alguns fatores podem fazer com que o próprio bebê promova uma “greve” na amamentação, antes de completarem um ano. Mas é importante não confundir esta situação com o desmame natural. As causas para a rejeição repentina do leite materno, que não deve durar mais de quatro dias, podem ser doenças, surgimento de dentes, alteração do sabor ou do volume do leite, excesso de mamadeira ou chupeta e estresse.
Desmame Natural
O desmame materno ocorre quando se cessa completamente o aleitamento. É um processo que faz parte da evolução da mulher como mãe e do desenvolvimento da criança. Nessa lógica, o desmame deveria ocorrer naturalmente, na medida em que a criança vai adquirindo competências para tal.
No desmame natural a criança se autodesmama, o que pode ocorrer em diferentes idades, em média entre dois e quatro anos e raramente antes de um ano. Costuma ser gradual, mas às vezes pode ser súbito, como, por exemplo, em uma nova gravidez da mãe (a criança pode estranhar o gosto do leite, que se altera, e o volume, que diminui). O desmame natural é menos estressante para a mãe e para a criança.
Desmame Abrupto
Não é recomendável, pois pode gerar na criança um sentimento de rejeição e insegurança, causando um comportamento rebelde. Já para a mãe, a interrupção do aleitamento de forma inadequada pode ocasionar ingurgitamento mamário, bloqueio do ducto lactífero e mastite, além de tristeza e depressão por mudanças hormonais.
Desmame Planejado/gradual
As técnicas ideais para incentivar o desmame variam de acordo com a idade. Nos casos de crianças maiores, elas podem participar do planejamento para o fim do aleitamento materno. É possível propor uma data específica e até oferecer recompensas. A mãe pode passar a não oferecer o seio, ainda que não o negue quando solicitado, pode encurtar as mamadas, adiá-las quando possível e evitar certos horários e locais. Outra opção é distrair a criança substituindo as mamadas por brincadeiras e a participação do pai é importante, sempre que possível.
A mãe, o pai ou familiar pode participar do processo ativamente, sugerindo passos quando a criança estiver pronta para aceitá-los e impondo limites adequados à idade.
Veja alguns sinais que indicam que a criança está madura para o desmame:
- Idade maior que um ano;
- Menos interesse nas mamadas;
- Aceita variedade de outros alimentos;
- É segura na sua relação com a mãe;
- Aceita outras formas de consolo;
- Aceita não ser amamentada em certas ocasiões e local;
- Às vezes dorme sem mamar no peito;
- Mostra pouca ansiedade quando encorajada a não amamentar;
- Às vezes prefere brincar ou fazer outra atividade com a mãe em vez de mamar.
Desmame Parcial ou Desmame Noturno
Uma das maiores queixas quando o assunto é amamentação em crianças maiores de um ano são as noites onde a criança não dorme bem e ainda solicita mamar muitas vezes durante a madrugada. Uma solução pode ser o desmame parcial, através do desmame noturno. Uma boa técnica para ajudar é a do Dr. Jay Gordon, que consiste em desmamar a criança gradativamente, durante algumas semanas, sem estresse nem choro. "Esse é um método para ser iniciado após um ano de idade do bebê, com ambos os pais de acordo que esse seja o momento, que o bebê seja e esteja saudável e que ainda acorde de noite a cada 2-4 horas para mamar, receber carinho, ver se os pais ainda estão ali, ou qualquer outro tipo de razão."
Leia mais sobre o método: http://guiadobebe.uol.com.br/hora-de-dormir-o-sono-parte-17/
Depois de ler tudo isso, você ainda não está segura que chegou a hora de fazer o desmame? Então vale a pena esperar! O mais importante é os pais estarem seguros da decisão e fazerem o desmame sem pressa, com paciência e carinho.
Fontes:
-Sociedade Brasileira de Pediatria
-Boletim Científico da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, maio de 2005.
-Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Ministério da Saúde, 2009. Cadernos de Atenção Básica, n. 23
-Guia do Bebê
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